Caminhantes

Walmor Corrêa

Nativa da zona tropical que vai do sul do México às áreas amazônicas do Brasil e da Colômbia, a palmeira conhecida como “Dendezeiro-do-Pará” é caracterizada por um curioso comportamento: quando a planta tem aproximadamente 15 anos, o caule começa a tombar, ficando próximo ao chão, mas mantendo a coroa foliar para cima. Tal aspecto deu origem ao nome com o qual indígenas a batizaram: Caiaué, ou “planta que anda”.

Na literatura científica, proliferam artigos a respeito dos óleos extraídos dessa palmeira, mas poucas são as informações sobre o raro fenômeno da procumbência, ou caule rastejante. Atraído pela imagem suscitada pela expressão “planta que anda”, passei a buscar maiores subsídios em sites especializados. E eis que, em meio à intersecção de dados sobre o tropismo vagaroso do caule rumo ao solo, cheguei à Pacarana, ou “falsa paca”. Trata-se do terceiro maior roedor do mundo, reconhecido pela quietude, brandura e lentidão dos movimentos. O que as duas espécies têm em comum? A morosidade. Ambas compartilham, além disso, o mesmo habitat, o que me motivou a conjugar histórias. No meu devaneio, a Pacarana faz seu ninho sob a Caiaué, alimentando-se de suas raízes e levando-a, como não poderia deixar de ser, à queda. Articulando essa fantasia plausível, eu criava uma explicação para o estipe procumbente da palmeira.

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