WALMOR CORRÊA: SOBRE O ILUMINISMO E SUAS SOMBRAS
Fernando Cocchiarale
ENTRE CAMPOS
Walmor Corrêa extrai de campos diversos do conhecimento humano ocidental a matéria-prima icônico-poética de seu trabalho. Biologia, história natural, arqueologia, paleontologia, botânica e mitologia convergem para os processos de invenção e produção deste artista. Sob a trama interdisciplinar visualmente explícita em sua obra (imagens similares às desenhadas, pintadas ou montadas por desenhistas biólogos), existem evocações verbais, indispensáveis ao exercício do devaneio sensório-especulativo suscitado no observador pela produção contemporânea.
Oposto à linguagem visual pura ou autorreferente, característica da produção modernista, o teor semântico, isto é, o sentido verbal inerente a toda imagem, demanda sempre a imediata correlação do que nela é visto, com o que sabemos (ou já vimos), por meio da palavra, situada fora do âmbito de sua configuração estrita. Imagens sempre nos remetem aos seus referentes reais, isto é, a realidades externas que a composição representa ou simboliza.
Por conseguinte, o sentido e a estratégia poética comuns ao conjunto da produção de Walmor Corrêa encontram-se, primeiramente, na confluência dos elementos figurados em suas pinturas, impressões, objetos, montagens, taxidermias e instalações (arte), com métodos icônicos de classificação (ciência) desenvolvidos por um novo tipo de viajante europeu, surgido a partir do século XVIII: o pesquisador naturalista e o biólogo, dedicados a mapear flora, fauna, geologia, geografia, grupos raciais e étnicos de todo planeta.
WALMOR CORRÊA: THE ENLIGHTENMENT AND ITS SHADOWS
Fernando Cocchiarale
BETWEEN FIELDS
Walmor Corrêa’s work draws its visual-poetic raw material from several different fields of western human knowledge. Biology, natural history, archaeology, palaeontology, botany and mythology all converge into the artist’s processes of invention and production. Underlying the visually interdisciplinary texture of his work (resembling those images drawn, painted or assembled by biological draughtsmen) are verbal descriptions that are indispensible for the speculative-sensory contemplation stimulated by contemporary art production.
The pure or self-referential visual language characteristic of modernist work is countered by the semantic content, that is, the verbal meaning inherent to every image, always requiring immediate correlation of what is seen in it with what we know (or have seen), through the means of words, beyond the realm of its strict appearance. Images always suggest their visual referents, that is, the external realities that the composition represents or symbolises.
Consequently, the meaning and creative strategy common to all of Walmor Corrêa’s work can be found primarily in a meeting between the elements portrayed in his paintings, prints, objects, assemblages, taxidermy and installations (art), and the iconic methods of classification (science) developed by a new type of European traveller that emerged in the 18th century: the naturalist researcher and biologist involved in classifying the flora, fauna, geology, geography and racial and ethnic groups of the entire planet.