Reflexões Sobre a Vida Eterna
Elisa Byington
No principio era o desenho. Um desenho nítido, cores harmoniosas, sombreado que molda as formas com equilíbrio, volumes que aderem à superfície do papel ou tela, como se a estas pertencesse. O desenho é assunto mental, antes de tudo. A materialização da idéia em imagem é resultado da mão bem adestrada capaz de dar forma ao que se tem em mente[1].
Walmor Corrêa desenha desde que se lembra. E mesmo quando pinta, desenha. A precisão do contorno, a delicadeza nas relações cromáticas, a nitidez que evoca a proximidade do modelo, afirmam o desenho como expressão soberana, veiculo privilegiado de observação e conhecimento, especulação intelectual e fantasia poética. Este instrumento, aprimorado desde cedo, consente ao artista escolher para seu trabalho a linguagem das ilustrações científicas, artifício capaz de mimetizar seu processo criativo em um universo distinto ao das artes plásticas e trafegar com desenvoltura entre pesquisas cientificas e ficções poéticas.
Para Leonardo, saber desenhar dava ao pintor conhecimento de anatomia superior ao médico. À diferença de seus contemporâneos, interessados nas questões plásticas ligadas aos modelos da estatuária clássica, para o artista florentino o principal desafio era a reprodução fiel da natureza, fiel como um espelho, para assim conseguir ser uma “segunda natureza”[2]. Na época, era habitual a colaboração entre cientistas e artistas não apenas para o conhecimento da anatomia mas também para a decifração de novas geometrias e de textos antigos. Os artistas sabiam dar forma visual ao pensamento, aspecto importante para a compreensão em alguns ramos do saber.
CONSIDERATIONS ABOUT ETERNAL LIFE
Elisa Byington
In the beginning there was drawing. A sharp drawing, with harmonious colors, shadows that shape the forms with balance, volumes that embrace the paper or canvas’ surface, as if belonging to them. Drawing is a mental issue, above all. The materialization of an idea in an image is the result of the well-trained hand, capable of shaping what one has in mind[1].
Walmor Corrêa has been drawing since he can remember. And even when he paints, he’s drawing. The precise outlines, the delicate chromatic relations, the definition that suggests some closeness to the model, they all emphasize the drawing as supreme expression, a privileged vehicle of observation and knowledge, intellectual speculation and poetic phantasy. This instrument, perfected early on, allowed the artist to choose the language of scientific illustrations for his work, an artifice that can mimic his creative process in a universe from different the visual arts’ one and resourcefully navigate scientific researches and poetic fictions.
For Leonardo, knowing how to draw gave the painter knowledge of anatomy, superior to doctors. Unlike his fellow artist, who were interested in the plasticity issues of the classic statues’ models, for the Florentine artist the main challenge was the faithful reproduction of nature, faithful as a mirror, so that it becomes a “second nature”[2]. At that time, the collaboration between scientists and artist wasn’t reduced to anatomy, but also happened in deciphering new geometries and ancient texts. The artists new how to give visual form to thoughts, and important aspect in understanding fields of knowledge.