Você que faz versos
Donaldo Schuller
“A festa acabou!”
Assim protestou Epimeteu, exausto de dotar os animais: presas, pelos, velocidade, cascos...
Afoito, distribuiu as qualidades – todas! – antes de chegar ao homem.
Só o homem nasce nu, fraco, desamparado.
Fonte: Protágoras, Platão.
Walmor começa onde Epimeteu termina.
Afrontando leis, povoa os céus de roedores alados.
Rompe algemas, venham donde vierem.
Walmor voa nas asas dos animais inventados.
Movem-se com elegância, olhares indagativos, ágeis, confiantes.
Montados em fios, em antenas, vencem distâncias na velocidade dos meios de comunicação, da luz.
A festa acabou para o homem!
Testemunhos do fim: depósitos de lixo, restos de produtos industrializados, comercializados.
Sonhos de imortalidade – materializados em rochas, mármore, bronze, concreto e aço – viram lixo.
O que somos? Lixo, produtores de lixo.
Vem o artista – mãos aparelhadas de fogo e arte, dádiva de Prometeu – para reinventar o mundo.
Do lixo nasce nova ordem: voar, sonhar, ser.
Esqueçam-se pirâmides, estátuas, fábricas, bombas, naves espaciais.
Esqueçam-se mumificados, marmorizados, bronzificados, maquinizados, militarizados,
Esqueça-se o homem atarefado, sem tempo para viver.
A verdade esplenderia em festivos roedores alados?
Estaremos na alvorada do além-homem nietzschiano?
You write the verses
Donaldo Schuller
“The party’s over!”
So protested Epimetheus, tired of endowing the animals: claws, fur, speed, hooves…
Boldly he distributed the qualities – all of them! – before arriving at man,
Only man is born naked, weak, helpless.
Source: Protagoras, Plato.
Walmor begins where Epimetheus ends.
Defying laws, he populates the skies with winged rodents.
He breaks the fetters, they come whence they came.
Walmor flies on the wings of invented animals.
They move with elegance, inquisitive eyes, agile, confident.
Mounted on wires, on antennae, they overcome distance at the speed of communication media, of light.
The party’s over for man!
Witnesses of the end: rubbish dumps, remnants of processed products.
Dreams of immortality – materialised in rocks, marble, bronze, concrete and steel – turn to rubbish.
What are we? Rubbish, producers of rubbish
The artist arrives – hands harnessed to fire and art, gift of Prometheus – to reinvent the world.
From rubbish a new order is born: to fly, to dream, to be.
Forget pyramids, statues, factories, bombs, spaceships.
Forget mummified, marbled, bronzed, mechanised, militarised, imperialised…
Forget overburdened man, with no time for living.
Will truth be resplendent in festive winged rodents?
Are we at the dawn of the Nietzschean superman?