Pesquisa, imaginação e mentira
Maria Amélia Bulhões
A palavra coleção traz à mente, de forma quase instantânea, os museus de história natural e as sequências de animais empalhados ou secos que ali são expostos. Quem não se recorda desse tipo de cenário em sua vivência escolar? Quem não visitou esses espaços de silêncio e morte?
Walmor Corrêa se alimenta dessas lembranças ao criar sua Mesa Entomológica e seu Diorama Cartesiano. Lembranças que vêm da infância, quando seu severo pai o levava ao campo, nos finais de semana, para classificar insetos; recordações que se acumularam com as viagens feitas a locais agrestes, bem como com as leituras de manuais e compêndios de ciências naturais. Sua postura cientificista, no entanto, se esgota em tais métodos de trabalho, pois sua imaginação se desprende da realidade objetiva para percorrer os ilimitados espaços da criação.
O artista relata que, quando aluno da escola secundária, tinha pena dos animais que eram mortos para servirem de objeto de estudo. Assim, ao desenhar suas criaturas, ele estabelece a possibilidade de que não haja, ali, a morte de um ser vivo. Os alfinetes verdadeiros que fixa sobre as imagens tentam sugerir maior veracidade a esses falsos animais.
Research, imagination and lies
Maria Amélia Bulhões
The word collection almost immediately brings to mind natural history museums and their displays of stuffed or dried animals. Who does not recall such things from their schooldays? Who has not visited these places of silence and death?
Walmor Corrêa feeds on such memories when creating his Mesa Entomológica [Entomological Workbench] and his Diorama Cartesiano [Cartesian Diorama]; recollections reaching back into childhood, when his strict father would take him into the countryside at weekends to classify insects; reminiscences that are added to trips into rural areas and readings of natural science manuals and compendiums. But his scientific approach eventually tired of such working processes, and his imagination broke free from objective reality to roam the boundless spaces of creation.
The artist tells that when he was at secondary school he felt a sense of pity for the animals killed to become objects of study. So when drawing his creatures he sets up the possibility that no living being has been killed. The real pins that he fixes to the images seek to bring greater veracity to these fake animals.