Sporophila beltoni
Walmor Corrêa
Em 2014 fui contemplado com uma bolsa de estudos na Fundação Smithsonian. Por fascínio e interesse pessoal, escolhi o Museu de História Natural de Washington, a fim de dar prosseguimento a um projeto especial, denominado Deslocamentos. Ao apresentar este novo projeto relatei que assim como as aves migram em períodos sazonais para reproduzirem-se e dar continuidade à sua descendência, isso também me remetia à própria condição de muitos latino-americanos que anualmente tentam emigrar para os Estados Unidos em busca de uma vida melhor.
Como pesquisador de diversos temas relacionados com as Ciências Naturais, já estava envolvido com as descobertas realizadas pelo ornitólogo americano William Belton (1914-2009). Ele aportou em nosso país já na condição de ornitologista, após aposentar-se de uma bem-sucedida carreira diplomática. Belton estudava, entre outros temas, fluxos migratórios de aves e desenvolveu grande parte de seus estudos patrocinado pela mesma fundação Smithsonian. Antes de me aprofundar em meu projeto nos Estados Unidos, chegou em minhas mãos a documentação de uma nova espécie de ave brasileira, recém descoberta pelos ornitólogos gaúchos Márcio Reppening - com qual havia compartilhado esse interesse - e Carla Suertegaray Fontana. Eles descreveram essa ave e a batizaram de Sporophila beltoni, justamente em homenagem ao próprio William Belton.
Empolgado com a nova descoberta, foquei meu trabalho na busca por sporophilas brasileiras no acervo do Museu de História Natural de Washington. Iniciei minha pesquisa, ainda no Brasil, solicitando informações sobre suas existências nas coleções da instituição. A resposta ao meu primeiro contato foi negativa. Não convencido, enviei outro e-mail solicitando uma busca mais aprofundada. A segunda resposta informava que o Museu possuía pássaros desse gênero, porém vindos de outros países da América Latina. Ainda assim, persisti. Já em Washington, fui gentilmente recebido pela equipe chefiada pelo ornitólogo Brian Smith. E a ele, desculpando-me pela insistência, solicitei realizar nova pesquisa nos arquivos digitais do Museu, desta vez acompanhando a mesma. Todavia nada constava. Um pouco desconcertado, mas não menos animado, pedi para fazer pessoalmente a checagem dos arquivos antes de serem digitalizados e que também nada mencionavam, e apenas confirmavam as buscas já realizadas pelo Museu. Sem estar convencido de que não havia relatos de Sporophilas brasileiras naquela instituição, pedi para pesquisar as gavetas que guardavam os animais taxidermizados, focando nas aves brasileiras. Novamente sem sucesso. Ainda tomado pelo impulso de pesquisador, fiz meu último pedido: “- Gostaria de ter acesso às coleções das Sporophilas da América Latina!”
Sporophila beltoni
Walmor Corrêa
In 2014 I was given a scholarship at the Smithsonian Foundation. Out of personal fascination and interest, I chose the Washington Museum of Natural History in order to move forward with a special project named Movements. In the project’s presentation, I wrote that just as birds migrate on a seasonal basis to reproduce and ensure the continuity of their lineage, I was reminded of the condition of many Latin Americans who every year try to emigrate to the United States in search of a better life.
As a researcher of various themes related to the Natural Sciences, I was already involved in the discoveries made by American ornithologist William Belton (1914-2009), who arrived in Brazil as an ornithologist after retiring from a successful diplomatic career. Belton studied, among other subjects, the migratory patterns of birds, and developed most of his research under the sponsorship of the Smithsonian Foundation. Before furthering my project in the United States, I was able to get my hands on documentation on a previously unrecognized Brazilian bird species, recently discovered by Rio Grande do Sul-based ornithologists Márcio Reppening – with whom I had shared this same interest – and Carla Suertegaray Fontana. They described this bird species and baptized it Sporophila beltoni, in honor, precisely, of William Belton himself.
Excited by their new discovery, I focused my work on the search for Brazilian Sporophila ssp in the archives of the National Museum of Natural History in Washington, D.C. While still in Brazil, I began my research requesting information about their existence in the institution’s collections. The reply to my first contact was negative. Not yet convinced, I sent another e-mail requesting a wider-reaching search. The second reply informed me that the Museum did have birds of this genus, albeit from other countries in Latin America. Even so, I persisted. After arriving in Washington, the team headed by ornithologist Brian Smith kindly agreed to meet me, and, apologizing for my insistence, I asked for further research to be carried out in the Museum’s digital archives, research that, this time, I would personally accompany. Still, nothing came up. Somewhat disconcerted but nevertheless undiscouraged, I asked permission to be able to personally check the files before they were scanned. These files also mentioned nothing, and merely confirmed the searches that had previously been carried out by the Museum. Still not convinced that there were no reports of Brazilian Sporophila ssp at the institution, I asked to search the drawers in which the animals, which had undergone taxidermy, were stored, focusing on Brazilian birds. Once again, I was unsuccessful. Still in the throes of my researcher’s impulse, I made my last request: “I’d like to have access to the Latin American Sporophila collections.”