Walmor Corrêa: sobre pássaros, sinapses e ervas energéticas

Paulo Miyada 

Digamos que o mundo, ou a existência, seja a soma de todas as coisas que podem ser percebidas, medidas, conhecidas, nomeadas, junto a todas as relações entre elas e delas com outras tantas coisas que possivelmente existem, mas não se deixam apreender. Há um campo de capacidades humanas, que chamamos de ciência, especializado em trazer ao tangível aquilo que antes pertencera a apenas ao provável, também chamado de desconhecido. Outras faculdades humanas - como a filosofia, a espiritualidade e a arte - almejam a possibilidade de estar em relação com o intangível sem precisar arrasta-lo às categorias das coisas mensuráveis. A obra de Walmor Corrêa, entretanto, demonstra uma e outra vez que nada é tão simples assim.

No ensejo de edificar fatos, a ciência muitas vezes fabula, especula, perde-se em margens de erro, coloca-se a serviço de ideologias, fantasias e desejos, cristaliza ficções. De modo simétrico, a arte com frequência faz de sua capacidade de “transverl o mundo” uma ferramenta para ver o mundo para além daquilo que já se sabe que está nele, expandindo o alcance das verdades conhecidas. É nessa ambivalência que Walmor Corrêa constrói o fundamento da sua poética. Entre saber e fabulação, ele emprega verossimilhantes e delicados sistemas visuais para suspender nossa descrença e reforçar nossa desconfiança.

Nascido em Florianópolis, antes conhecida como Desterro e até hoje apelidada de Ilha da Magia, esse artista retorna agora à sua ilha natal com uma reunião inédita de obras produzidas desde 2001 até hoje. Nesse conjunto, há momentos em que Walmor Corrêa transformou erros flagrantes em hipóteses cientificas em roteiros para reinventar a natureza; noutros, ele colaborou com pesquisadores de múltiplas especialidades para melhor descrever uma anatomia plausível para entes nascidos em sonhos, lendas, mitologias e augúrios populares e/ou ancestrais; há também casos em que perseguiu analogias desconcertantes entre a sobrevivência das espécies e a cidadania de diferente grupos sociais; e outros ainda em que se valeu de mapeamentos e mensurações técnicas para expressar sua admiração por personagens que moldaram e moldam sua vivência do mundo. Qual caso é qual? Deliberadamente deixamos que cada visitante percorra as pistas, armadilhas e mistérios meticulosamente armados em cada obra, criando suas próprias hipóteses, antes de encontrar os concisos relatos de processo do artista no monitor que conclui a exposição.

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